Não se trata apenas de desacelerar o ritmo frenético de nossas vidas, mas sim de resgatar o valor do tempo
Quando olhamos existência de 80 anos de vida, é surpreendente perceber que apenas cerca de 9 anos serão verdadeiramente livres. Nove anos para serem vividos sem as amarras do trabalho, das tarefas diárias ou das obrigações sociais. Nove anos para serem preenchidos com aquilo que realmente importa.
Geir Berthelsen, fundador do Instituto Mundial da Lentidão, nos convida a uma jornada de introspecção sobre como iremos utilizar esses preciosos nove anos. Em um mundo onde somos constantemente bombardeados com demandas e responsabilidades, é essencial que saibamos valorizar e aproveitar ao máximo esse tempo livre.
A Revolução Industrial nos trouxe muitos avanços, mas também nos inseriu em uma cultura obcecada pela produtividade e pela eficiência. No entanto, ao nos depararmos com esses nove anos de liberdade, somos lembrados de que a vida não é apenas uma corrida desenfreada, mas sim uma oportunidade para vivenciarmos momentos autênticos e significativos.
A urbanização exacerbada traz consigo uma série de desafios sociais, ambientais e emocionais. Milhões de pessoas enfrentam diariamente os efeitos nocivos da pobreza, da sobrelotação, da poluição e da solidão, enquanto a busca incessante pelo "mais rápido" nos distancia cada vez mais da conexão humana e do cuidado mútuo.
Nesse contexto, a lentidão emerge como uma resposta vital. Não se trata apenas de desacelerar o ritmo frenético de nossas vidas, mas sim de resgatar o valor do tempo, de reconectar-nos com o momento presente e de cultivar relações profundas e significativas.
Os antigos gregos já compreendiam a dualidade do tempo: o chronos, linear e mensurável, e o kairós, o momento supremo, onde eventos especiais acontecem. É nesse "tempo lento" que encontramos a verdadeira essência da vida, onde podemos nos reconectar com nossos valores mais profundos e com o mundo ao nosso redor.
Para construirmos cidades verdadeiramente grandes, é imprescindível promovermos a interação humana baseada em valores fundamentais como pertencimento, cuidado e amor. Isso requer uma mudança de paradigma, onde a lentidão nas relações humanas seja não apenas valorizada, mas prioritária.
Como disse Lily Tomlin, "o problema da corrida desenfreada é que, mesmo que você ganhe, ainda é um rato". Precisamos rejeitar essa mentalidade competitiva e abraçar a lentidão como um caminho para uma vida mais plena e significativa.
Portanto, quando nos depararmos com esse tempo livre, lembremo-nos de que cada momento é uma oportunidade única para vivermos de acordo com nossos valores e propósitos mais profundos. Não vivamos com medo de chegar atrasados ao nosso próprio funeral, mas sim com a certeza de que vivemos cada instante com autenticidade e gratidão.